sábado, 13 de novembro de 2010

O Vida do Escrivão de Polícia

A profissão de policial é muito interessante, empolgante para quem tem vocação. Deixando de lado os delegados de polícia, que possuem bons vencimentos na maioria dos estados da federação, temos os subsídios que pouco têm atraído profissionais bem qualificados para os outros cargos, com exceção do Distrito Federal, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Um bom subsídio no final do mês, só, não basta! É necessário que a profissão seja cativante, mas, atualmente, muitas são as dificuldades que desmotivam os profissionais. Particularmente, como escrivão, vejo a burocracia como um dos grandes entraves para colocar bandidos atrás das grades. Os cartórios das delegacias muito têm se preocupado em cumprir as intermináveis solicitações do judiciário, cumprindo os diversos detalhes do inquérito policial com atenção e dentro dos prazos. Casos relativamente simples podem levar anos em tramitações entre o executivo e o judiciário. Em pouco tempo de trabalho num cartório policial, já é possível perceber onde a impunidade, no Brasil, começa. O inquérito é por demais preocupado com a forma, deixando a agilidade de lado. A falta de profissionais também auxilia na demora para cumprimento das necessidades do inquérito. Ora é a falta de escrivães, ora é falta de agentes ou viaturas para auxiliar em outras diligências. Enquanto o inquérito tramita, o suspeito está livre para cometer outros crimes. E depois de preso? São as visitas íntimas, saidão, progressão de pena. É comum um criminoso, com uma ficha razoável, estar livre em pouco tempo para ser novamente preso, muitas vezes pelos mesmos crimes.

Outra coisa que desanima o policial, não só o escrivão, são as reportagens de grande repercussão nacional, onde quase sempre, policiais são mostrados como bandidos, colocando a população contra esses profissionais. Outro exemplo vêm dos responsáveis pelo controle das atividades da Polícia. Um membro no Ministério Público, recentemente, ligou para o plantão do qual eu participava, de madrugada, acusando os profissionais de terem torturado um adolescente infrator. Parecíamos ter sido sumariamente julgados, enquanto o infrator recebia toda a atenção do Estado. De um lado, o infrator, preso em flagrante, tendo sido reconhecido por quatro vítimas, visivelmente alterado pelo uso de drogas e ofendendo policias durante todo o tempo em que permaneceu sob a custódia da delegacia, de outro, um promotor, talvez com interesses políticos ou com laços de amizade com alguém da família do adolescente, nos acusando sem qualquer prova, inclusive formalmente, com um ofício que nos foi entregue durante a madrugada. Do meu ponto de vista, estávamos sendo torturados psicologicamente ao cumprir nossa função.

Não pretendo apenas criticar o Ministério Público, que deve cumprir seu papel perante a sociedade para coibir excessos de policiais, mas e os excessos dessa instituição, quem controla?

A morosidade do inquérito, a falta de servidores, de viaturas, de estrutura,
a cobrança da sociedade, das diversas autoridades, tudo isso cansa. Tenho pouco tempo na profissão e já aprendi que lutamos não só contra o crime, mas contra todo um sistema que aprendeu a ver a polícia como como uma instituição de brutos, e não de protetores da sociedade.

Apesar de tudo, gosto de ser policial, escrivão. Mas, até quando poderei cumprir minhas funções sem deixar de ser envolvido por todos os entraves que acompanham a profissão?

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